Sexo, drogas e a Geração Coca-cola
março 09, 2012 00:25
Postado por Unknown
Na década de noventa, a história da liberalização sexual era simplesmente o assunto mais debatido em qualquer mesa redonda aqui no Brasil. Não era só a liberdade feminina que estava em questão agora, mas a liberdade dos homossexuais. Na música, na política e, principalmente, na mídia. A AIDS foi estampada na cara da população, o uso da camisinha era divulgado por figuras influentes espalhadas pelo país. Inclusive por Renato Manfredini Junior, ou simplesmente Renato Russo. O líder da Legião Urbana abraçou a causa gay, defendeu a liberdade de expressão, falou e lutou contra as drogas e incentivou o uso de preservativos, principalmente após receber o diagnóstico de soropositivo.
As letras de música escritas por Renato quase sempre tinham suas pontuações sobre aspectos sociais. O primeiro disco da Legião - de 1984 - já estreava nas rádios com o clima de um rock que via o fim da ditadura: crítico e inflamado. Músicas como Baader-meinhof blues, O Reggae e a tão aclamada Geração Coca-cola acertaram em cheio o público. Atacavam de forma sutil o Estado, a violência, a hipocrisia e a fraqueza de uma Constituição que não se fazia cumprir.
Vieram os outros trabalhos, as drogas, o vício, a depressão. O processo para se livrar da dependência química foi lento e doloroso. Teve suas recaídas. Mas, em 1994, quando Dado, Renato e Bonfá foram entrevistados pela segunda vez no Programa do Jô, o vocalista do grupo afirmou que estava ‘limpo’ há algum tempo, e que passava por um programa de recuperação em etapas. Definiu o consumo de drogas e o vício como uma doença, falou da depressão e da vontade de suicídio que perseguia os dependentes, como um sintoma. Lembrou de Kurt Cobain e de Cazuza. Apresentou O Descobrimento do Brasil e um trabalho solo que transmitia parte das arrecadações para A Ação da Cidadania Contra a Miséria e Pela Vida, e continha na capa número e endereço de grupos de defesa dos direitos da criança e dos direitos da mulher e os principais grupos gays do Rio de Janeiro, como uma espécie de incentivo à participação social.
Algumas letras estampavam o orgulho homossexual e a auto-aceitação como os primeiros passos para conseguir o respeito da sociedade.Meninos e Meninas, um épico que assustava os desavisados - Meu Deus! Gosta de meninos e meninas?! -, Primeiro de Julho e algumas outras faixas exaltavam o grito gay contra a discriminação: “Sou diferente de você, mas quem não é?Eu também posso ter dignidade!”.
Renato Russo insistia que o Brasil tinha que pensar diferente: leis de proteção à minoria GLS - gays, lésbicas e simpatizantes -, e que fossem efetivas sobre a população. Comparava com os absurdos que vira nos Estados Unidos, com seus grupos clandestinos que espancavam homossexuais na calçada.
Quase sempre parava os shows, entre uma música e outra, e falava justamente dessas coisas: da homossexualidade, do consumo de drogas e, de forma mais indireta, da AIDS. O mesmo Renato que lutava contra a discriminação. O mesmo que sofria de depressão pelas drogas. O mesmo que desistiu de lutar e pediu à mãe que o deixasse morrer em casa, sozinho.
Geração Coca-Cola
Espero que tenham gostado...
Comentem, tá?
O Doug.
"Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Nós somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola"
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11 de março de 2012 às 22:17
Desculpe a demora para comentar. Certamente essa Geração Coca-cola foi uma das de maior produção cultural no âmbito musical. A decada de 80, marcada pela ditadura militar, foi o berço de grandes artistas brasileiros inspirados pelo abuso do poder das autoridades. Gostei da sua homenagem aos grandes representantes da luta contra o governo opressor ^^.
Bruno Kitagawa, eterno multinverser!
19 de abril de 2012 às 13:23
Caraca, isso sim é geração. Sou apaixonada por Legião Urbana, Cazuza e tantos outros ícones do rock ou da música brasileira em geral que fizeram do seu sucesso um alarde para os problemas sociais. Gostaria muito de ter vivido nessa época, para poder ajudar a melhorar o cenário do país (eu busco fazer isso na minha geração, mas é tão difícil), já que na época se tinha uma sociedade que ia atrás de suas ideologias e defendia seus sonhos com toda a força. Hoje ainda é possível encontrar pessoas que pensem desse jeito, mas infelizmente são poucas. Temos que abrir os olhos e nos inspirar nas gerações anteriores que fizeram a diferença e lutar por nossos direitos, princípios, sonhos e ideologias. Creio que ainda é possível a sociedade se espertar, ainda há tempo, "somos tão jovens,[...] não temos tempo a perder", só depende de nós.
Adorei o post Doug, parabéns.
=D