Na década de noventa, a história da liberalização sexual era simplesmente o assunto mais debatido em qualquer mesa redonda aqui no Brasil. Não era só a liberdade feminina que estava em questão agora, mas a liberdade dos homossexuais. Na música, na política e, principalmente, na mídia. A AIDS foi estampada na cara da população, o uso da camisinha era divulgado por figuras influentes espalhadas pelo país. Inclusive por Renato Manfredini Junior, ou simplesmente Renato Russo. O líder da Legião Urbana abraçou a causa gay, defendeu a liberdade de expressão, falou e lutou contra as drogas e incentivou o uso de preservativos, principalmente após receber o diagnóstico de soropositivo.

As letras de música escritas por Renato quase sempre tinham suas pontuações sobre aspectos sociais. O primeiro disco da Legião - de 1984 - já estreava nas rádios com o clima de um rock que via o fim da ditadura: crítico e inflamado. Músicas como Baader-meinhof bluesO Reggae e a tão aclamada Geração Coca-cola acertaram em cheio o público. Atacavam de forma sutil o Estado, a violência, a hipocrisia e a fraqueza de uma Constituição que não se fazia cumprir.
                             
Vieram os outros trabalhos, as drogas, o vício, a depressão. O processo para se livrar da dependência química foi lento e doloroso. Teve suas recaídas. Mas, em 1994, quando Dado, Renato e Bonfá foram entrevistados pela segunda vez no Programa do Jô, o vocalista do grupo afirmou que estava ‘limpo’ há algum tempo, e que passava por um programa de recuperação em etapas. Definiu o consumo de drogas e o vício  como uma doença, falou da depressão e da vontade de suicídio que perseguia os dependentes, como um sintoma. Lembrou de Kurt Cobain e de Cazuza. Apresentou O Descobrimento do Brasil e um trabalho solo que transmitia parte das arrecadações para A Ação da Cidadania Contra a Miséria e Pela Vida, e continha na capa número e endereço de grupos de defesa dos direitos da criança e dos direitos da mulher e os principais grupos gays do Rio de Janeiro, como uma espécie de incentivo à participação social. 

Algumas letras estampavam o orgulho homossexual e a auto-aceitação como os primeiros passos para conseguir o respeito da sociedade.Meninos e Meninas, um épico que assustava os desavisados - Meu Deus! Gosta de meninos meninas?! -, Primeiro de Julho e algumas outras faixas exaltavam o grito gay contra a discriminação: “Sou diferente de você, mas quem não é?Eu também posso ter dignidade!”.

Renato Russo insistia que o Brasil tinha que pensar diferente: leis de proteção à minoria GLS -  gays, lésbicas e simpatizantes -, e que fossem efetivas sobre a população. Comparava com os absurdos que vira nos Estados Unidos, com seus grupos clandestinos que espancavam homossexuais na calçada.

Quase sempre parava os shows, entre uma música e outra, e falava justamente dessas coisas: da homossexualidade, do consumo de drogas e, de forma mais indireta, da AIDS. O mesmo Renato que lutava contra a discriminação. O mesmo que sofria de depressão pelas drogas. O mesmo que desistiu de lutar e pediu à mãe que o deixasse morrer em casa, sozinho.

Geração Coca-Cola


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O Doug.
"Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Nós somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola"