“Não tinha o mínimo de sentido. As lágrimas rolaram, chorei sozinho, ninguém poderia imaginar o que eu estava passando.”



Um jovem, aos vinte e poucos anos, junto com um grupo de amigos, todos vivendo aquele bom e agradável espírito natalino, decide (meio bêbado) dar um mergulho em um lago, que possuía apenas meio metro de profundidade. Um mergulho que transformou completamente a sua vida.


Feliz Ano Velho é um livro autobiográfico, pois relata a história do próprio autor brasileiro Marcelo Rubens Paiva. Quando foi publicado, em 1982, tornou-se um best-seller nacional na década de 80. A história conta que Marcelo, após o mergulho, quebrou uma vértebra e ficou tetraplégico. Foi o segundo grande marco de sua vida. O primeiro foi o desaparecimento do seu pai quando tinha apenas onze anos de idade.

No decorrer do livro, o autor constrói um paralelo entre o presente e o passado. Mostra o Marcelo revendo o que foi a sua vida e as dificuldades que os deficientes físicos encontram até hoje na nossa sociedade. Além disso, é abordado o tempo da ditadura militar e a transição política, quando ocorre a redemocratização no nosso país. Pois, como já foi mencionado, o pai do Marcelo, o ex-deputado federal Rubens Paiva, desapareceu após ser levado pela polícia.
“Mataram Rubens Paiva. Jesus Cristo. Che Guevara. Herzog. Santo Dias. 20 mil na Argentina. 30 mil em El Salvador. Mataram e deceparam Vistor Jara. Mas nunca vão matar aquela esperança que a gente tem de um mundo melhor, que eu não sei direito como vai ser, mas com certeza gente como "o oficial loiro, de olhos azuis", tipo Brigadeiro Burnier e tipo Médici, não vão ter."
Narrado em primeira pessoa, o livro tem uma leitura fácil, rápida e engraçada. Isso mesmo, apesar de a história ser trágica, a sua linguagem não é aquela que faz você querer chorar, e não existe aquela preocupação de passar alguma lição de vida, como acontece nos de auto-ajuda, ou de ser um exemplo a seguir, por parte do autor.

“(...) é meu livro mais visceral. É um livro que tem muitos flashbacks, que apareciam quando eu estava cansado de escrever a história principal, do acidente, e começava a falar sobre outras coisas. É um livro sobre construção de identidade, de fé, não é só um livro sobre o acidente” - afirmou Marcelo.

Após várias sessões de fisioterapia, Marcelo conseguiu recuperar os movimentos dos braços. Ao lançar Feliz Ano Velho, foi o vencedor do Prêmio Jabuti e o livro virou peça dirigida por Paulo Betti e também filme, dirigido por Roberto Gervitz.

Confesso que não sou muito fã de livros biográficos e que esse livro não é um dos melhores que já li. Porém, é uma história comovente, muito interessante, aborda questões importantes e, por se tratar de uma história verídica, o leitor acaba lendo-o de outra forma, talvez mais humana. Por isso recomendo e espero que gostem.

Até mais =)