Último livro do maravilhoso escritor Paulo Coelho, o mago da literatura brasileira, O Aleph foi também transformado em uma música para o último CD da magnífica cantora (ex-RBD) Anahí. Sem mais, confiram.

Acalmem-se, multinversers, tudo não passa de uma brincadeira. Não venho falar de nenhum livro do Sr. Esoterismo nem de nenhuma música de uma ex-Rebelde. O que venho apresentar a vocês é O Aleph, um livro de contos fantásticos, uma das obras-primas do escritor argentino Jorge Luis Borges.

Antes de tudo, vamos deixar uma coisa bem clara: o que é "aleph"? Aleph é a primeira letra de diversos alfabetos, como o hebraico e o árabe, e simboliza o início. Para a Cabala, essa letra significa a pura e ilimitada divindade. Mas, para Borges, O Aleph é ponto que contém todo o universo.

Imagine só achar o ponto onde se pode ver todo o universo, de todos os ângulos, em todos os tempos, no porão de uma casa que está para ser demolida.

Se tens um jardim e uma biblioteca, tens tudo. - Jorge Luis Borges

Marcados pela estética do realismo fantástico, os quinze contos do livro têm como elementos recorrentes livros, sonhos, labirintos, religião e bibliotecas (Borges era bibliotecário). São histórias simbólicas, complexas, aparentemente sem sentido, mas com desfechos surpreendentes, que dão não só um, mas vários sentidos para a história e te deixam filosofando. É muito forte a presença da cultura árabe, do povo gaúcho e referências à imigração italiana e alemã na Argentina. A ironia refinada de Borges é evidente no livro, como, por  exemplo, na contradição entre os nomes dos dois primeiros contos do livro.

1- o imortal
2- o morto
3- os teólogos
4- história do guerreiro e da cativa
5- biografia de tadeo isidoro cruz (1829-74)
6- emma zunz
7- a casa de astérion
8- a outra morte
9- deutsches requiem
10- a busca de averróis
11- o zahir
12- a escrita do deus
13- aben hakam, o bokari, morto em seu labirinto
14- os dois reis e os dois labirintos
15- a espera
16- o homem no umbral
17- o aleph

Jorge Luis Borges (1899-1986) é considerado o maior escritor da Argentina. Nascido em uma família abastada, estudou na Europa, onde teve contato com a estética modernista. Ganhou renome internacional após o "boom latino-americano", impulsionado pelo sucesso de Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez. Além de O Aleph, outras obras de destaque do argentino são Ficções e O livro dos seres imaginários (meu primeiro contato com o autor). Borges está na (longa) lista dos autores que foram injustiçados pela Academia da Suécia e acabaram morrendo sem receber o seu Nobel. A comparação que sempre faço é: Borges está para os argentinos como Saramago está para os portugueses.

O italiano Umberto Eco homenageou o autor em seu romance O Nome da Rosa criando o personagem Jorge de Burgos. O brasileiro Luis Fernando Veríssimo tem Borges como um de seus autores favoritos, tendo utilizado o argentino como personagem em várias crônicas do seu livro Banquete com os deuses.  E, no dia 24 de agosto de 2011, dia em que Borges completaria 112 anos, caso ainda estivesse vivo, o Google homenageou o autor com um de seus doodles comemorativos. No mesmo dia, O Aleph foi parar nos trending topics (assuntos mais comentados) do Twitter e foi assim que conheci o livro, que hoje é um dos meus favoritos.


"[...] vi a circulação de meu sangue escuro, vi a engrenagem do amor, vi o Aleph, de todos os pontos, vi no Aleph a Terra, e na Terra outra vez o Aleph e no Aleph a Terra, vi meu rosto e minhas vísceras, vi teu rosto, e senti vertigem e chorei, porque meus olhos tinham visto aquele objeto secreto e conjectural cujo nome os homens usurpam mas que nenhum homem contemplou: o inconcebível universo." - O Aleph