Ricardo, bom menino - calmo, simples e conformista.
Lily, menina má - inconformista, aventureira e pragmática. 
Uma paixão impossível e, ao mesmo tempo, inevitável.

Qual é a verdadeira face do amor?

É com essa pergunta que Mario Vargas Llosa, Nobel da Literatura, nos instiga a desvendar o seu romance Travessuras da menina má. Juro, não sou daqueles que acredita em amor propriamente dito, muito menos à primeira vista. Desprezo romantismos. Mas, a história de Ricardo e a Menina Má tomou minha atenção por semanas. E não pude deixar de compartilhá-la com vocês, multinversers.

Ricardo Somocurcio é um jovem cujo maior sonho é viver em Paris, mora com a sua velha tia no bairro aristocrático de Miraflores, em Lima, capital do Peru. Tem uma vida pacata: estuda inglês e francês, brinca com os meninos do seu bairro, pratica esportes, vai ao clube, dança com garotas nas festas. Tudo estava tranquilo e nenhuma novidade era esperada naquele verão até que chegou a Miraflores aquela garota que o marcou pelo resto da vida, Lily, a chilenita. Era uma garota bonita e, não apenas pela beleza, atraente. Misteriosa, vinda de outro país, ela logo chamou a atenção de todos os rapazes do bairro, que a desejavam mais que tudo. Ricardo não foi exceção, caiu de amores pela sensualidade exótica de Lily. Saíram juntos, divertiram-se, namoraram, mas não importava o que Ricardo oferecia, nada parecia ser suficiente para ela. Após uma pequena confusão em uma festa de aniversário, a garota desaparece e ninguém nunca mais ouve falar dela. Ele, porém, jamais esquece a garota que tomou conta dos seus pensamentos.

Os anos se sucedem e Ricardo consegue realizar seu sonho parisiense, sendo contratado como tradutor pela recentemente formada Unesco. A França dos anos 60 é revolucionária. É tempo da Guerra Fria. A Revolução em Cuba inspira os jovens de todo o mundo. Governos de esquerda emergem na América Latina e terríveis ditaduras estão próximas de serem implantadas. Guerrilheiros são mandados secretamente para Cuba para receberem treinamento militar, podendo assim levar o sonho marxista para os seus países de origem. É nesse contexto que Ricardo reencontra Lily, desta vez com outro nome, na França, como guerrilheira, com destino a Cuba. Porém, o reencontro não é longo e novamente ela o deixa sofrendo de amores.

Com o passar do tempo, Ricardo e Lily se encontram nos mais variados lugares, nas mais variadas épocas e - ela - com as mais variadas identidades. A Londres da liberdade sexual, das drogas, dos hippies e da beatlemania, até a decadência da cultura paz-e-amor com o surgimento da Aids, dos grupos neonazistas e da comercialização da cultura de protesto nos anos 70. A Tóquio dos grandes mafiosos da Yakuza, no Japão pós-ocupação americana. A Madri em transição política, com a queda do franquismo, nos anos 80. Ele sempre  dando tudo o que pode oferecer à menina má, e ela sempre querendo mais do que o seu coisinha à toa pode oferecer. O acomodado e a ambiciosa. Uma história de amor fascinante.

Ah, e não vamos esquecer a resposta da pergunta do início do texto. O amor não é aquele sentimento esdrúxulo de fidelidade, confiança extrema e eterna concordância. O verdadeiro amor é o daquela pessoa que pode até te trair, abandonar e fingir que não liga pra você, mas que, mesmo assim, é a única pessoa que você ainda deseja, é a pessoa que te faz sentir bem e que - não importa quanto tempo passe - sempre volta pra você.