Tecnicamente falando, Água para elefantes é um livro que conta a história de um rapaz, Jacob Jankowski, que, com apenas 23 anos e prestes a se formar em medicina veterinária,  perde a família e acaba pulando em um trem em movimento - O Esquadrão Voador do Circo Irmãos Benzini, o Maior Espetáculo da Terra, onde conhece a crueldade, a bondade e o amor, em suas diversas formas (inclusive entre homens e animais, o que explica o nome do livro, já que Jacob cria um laço real de amizade e lealdade com uma elefanta linda, grande e inteligente: Rosie). E que, 70 anos depois revive tudo isso com a chegada de um circo à cidade onde vive numa casa de repouso. Mas pra mim, ele fala de muito mais. Fala das lembranças, do tempo e de como ele afeta a todos nós.
“Estou aos prantos como o velho boboca que sou, é isso. Acho que dormi. Eu podia jurar que há apenas alguns segundos tinha 23 anos, e agora estou aqui, neste corpo deplorável e ressequido.”

Talvez eu seja só uma boboca, assim como Jacob, mas no decorrer das 335 páginas, peguei-me pensando no quão difícil deve ser envelhecer, deixar pra trás pessoas, vidas, memórias, tatos, cheiros e a lembrança de como você era.
“Não adianta. Mesmo quando olho direto nos olhos leitosos e azuis no espelho, não me encontro mais. Quando deixei de ser eu?”
Nem sempre somos os mais pacientes e amáveis com os idosos, nossos velhinhos. E me pergunto se, em algum momento, pensamos em como eles se sentem e em tudo o que eles são. É que a impressão que eu tenho é que nós os olhamos e apenas conseguimos ver o presente, nem sempre grato. Enxergamos apenas suas limitações, a demora na realização de algumas tarefas, a memória cada vez mais escassa, suas feições “distorcidas” pela vida.

No entanto, eles são muito mais que isso. Eles são seu passado, as aventuras que viveram, os sonhos que sonharam, os seres que amaram, as lutas que travaram. Eles são os filhos que educaram, as cenas que assistiram, o amor que compartilharam, as lágrimas que derramaram, as dificuldades que passaram.

Eu acho, que nunca mais vou olhar para um velhinho da mesma forma. Água para elefantes me despertou uma vontade enorme de conhecer e descobrir o que há por trás daquelas mãos enrugadas e daquele andar arqueado que estão ao meu redor, de vez em quando. Me despertou a certeza de que eles têm muito a contar, muito a compartilhar, ensinar e, acima de tudo, eles têm muito a dizer.

Sim, pode ser que o tempo tenha feito deles um pouco mais frágeis, mas eu acho que o que não podemos esquecer é que eles ainda estão ali e, assim, ainda têm o direito de escolher (claro, se possível for) sobre suas próprias vidas. Falo de pequenas coisas, que pra gente não é nada, mas que pra pessoas em situações como a de Jacob, sozinhas, relembrando acontecimentos distantes, são muito: como decidir o que comer, se quer ou não a luz ligada ou se prefere assistir TV a jogar xadrez. Essas coisas sem grande importância na nossa vida, mas que dizem muito de nós mesmos.

Água para elefantes é o tipo de livro que me dá vontade de fazer todo mundo ler, e acho que é por isso que resolvi escrever sobre ele aqui, só pra tentar colocar um pouquinho mais de humanidade na forma do mundo ver o outro. Espero que vocês leiam, meus leitores queridos, e possam ver, assim como eu, muito além da linda história de amor e dos encantos do mundo circense. E, claro, espero que gostem!

P.S.: Depois de virar um best-seller, o livro ganhou uma adaptação para o cinema com Robert Pattison (muitos suspiros, rs), Reese Witherspoon e Christoph Waltz, o ganhador do Oscar, como personagens principais. 
                     
Mil e um beijos dessa Rainha sumida, ocupada e, sempre, Branca.