Destino, filosofia, tempo, humanidade, segredo e amor.
Esses são alguns dos assuntos abordados neste livro.
Oito anos após ter sido abandonado pela mãe, um garoto chamado Hans Thomas, junto com o seu pai, realiza uma viagem pela Europa com o intuito de reencontrá-la. É nesse cenário onde todo o encanto ocorre.

Vivemos nossas vidas num incrível mundo de aventuras, pensei. Apesar disso, a grande maioria das pessoas considera tudo isso "normal".

Livro: O Dia do Curinga
Autor: Jostein Gaarder
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 384

Uma das coisas que apreciei quando li o livro foi o fato dele não relatar apenas uma história, há toda uma volta no tempo. Passamos pelo período de guerra, por uma ilha mágica (onde tudo começa), vamos conhecendo caminhos da terra e do mar, sem mencionar os relatos feitos pelo pai do garoto (um filósofo) sobre a Grécia e a Europa.

Mesmo tendo todo esse percurso, as histórias são todas sincronizadas. Confesso que ao longo do livro fiquei um pouco confusa, mas tudo se resolve. A emoção, de fato, começa quando o garoto encontra um livrinho do tamanho de uma caixa de fósforo dentro de um pão doce, que só consegue lê-lo com uma lupa que recebeu de um anão. O nome do livrinho é : A Bebida Púrpura e a Ilha Mágica. No decorrer de sua viagem vamos acompanhando o Hans lendo o livro, ficamos, assim como ele, curiosos para saber o que vai acontecer e ficamos loucos tentando desvendar os mistérios. Vivenciamos, ao mesmo tempo, vários acontecimentos incríveis.
Enquanto somos crianças, ainda possuímos a capacidade de experimentar intensamente o mundo à nossa volta. Com o passar do tempo, porém, acabamos por nos acostumar com o mundo. Ser criança e se tornar um adulto, pensei, é como embebedar-se de sensações, de experiências sensoriais.

Outro personagem muito importante é o Curinga, claro. Nele são refletidas as exceções da vida. Toda vez que eu lia algo sobre esse personagem, geralmente era ele o malvado e nos jogos, o descartado. Mas, ao ler esse livro, obtive uma visão totalmente diferente. Ficamos até com vontade de ser um. De não pertencer a nada (aos naipes no caso), ser o único, ser diferente, viver com outros pensamentos, só fingir que é bobo...

... a capacidade do homem de se surpreender com a vida jamais terminaria. Está certo que essa capacidade era um dom raro; em compensação, ela jamais se extinguiria por completo. Continuaria aparecendo aqui e acolá, enquanto houvesse uma história e uma humanidade que abrigassem os curingas e suas peripécias. A velha Atenas teve Sócrates; Arendal tinha meu pai e eu, se é que posso dizer isso. E na certa também houve, há e haverá curingas em outros lugares e em outros tempos, mesmo que nós não sejamos tantos assim.
Nos dois livros que vamos acompanhando, tudo se mistura. Felicidade, tristeza, surpresas, decepções, acabamos sentido um pouco do sabor da bebida púrpura (aliás, ela tem sabor de tudo), começamos a ler de trás pra frente (anerol), nossos olhos brilham por causa dos peixinhos coloridos e sentimos também a sensação da dúvida.

... maior do que tudo é o amor. E o tempo nem de longe consegue apagá-lo com a mesma rapidez com que apaga as lembranças...


Esse é, sem dúvidas, um dos melhores livros que já li. Quem já leu pode concordar comigo (ou não). E para quem ainda não leu, quem sabe ele não é o seu livrinho dentro do pão esperando ser encontrado?