Assassinato em primeiro grau
setembro 26, 2011 13:49
Postado por Tinker Bell
Quando eu era criança, ficava pensando o porquê de os presos não morarem nos presídios para sempre, já que, pelo que me diziam, eles estavam ali por terem feito coisas ruins (rs).
A medida que ia crescendo, ouvia que os presídios eram lugares que reeducavam as pessoas, que davam a elas uma nova chance de seguir um caminho dentro das leis, então achava estranho falarem tanto em crimes cometidos dentro dos presídios e também naquelas pessoas que continuavam no "mundo do crime" após cumprir suas penas.
Hoje, estudo que o papel do Estado é dar condições para que a população carcerária se reinsira na sociedade, por isso não temos prisões perpétuas e, teoricamente, as torturas não são permitidas, mas sei também que muitas vezes eles não se reinserem na sociedade porque o Estado não cumpre o seu papel.
Assassinato em primeiro grau conta a história verídica de Henri Young, homem que entrou na prisão por roubar 5 dólares, teve os seus direitos tirados e terminou como assassino. Quem é o culpado pela morte: Henri Young, o assassino, ou o Estado, que transformou Young em um assassino?
Não preciso falar que não se trata de uma história feliz, né?! Trata-se de uma história real, com pessoas reais, com cenas fortes, daquelas que não saem da sua cabeça tão fácil assim (tanto que eu estou aqui falando do filme pra vocês).
Alcatraz foi desativada e hoje é um museu nos Estados Unidos |
Young participou de um tentativa frustrada de fuga de Alcatraz que foi denunciada por Rufus McCain, da qual ele foi o único sobrevivente, e por isso foi condenado a passar 19 dias na solitária (que era, segundo as regras do presídio, o prazo máximo para um detento ficar nessa cela). Entretanto, Henri Young ficou na solitária por 3 anos, sofrendo todos os tipos de tortura, tendo direito a apenas um banho de sol de 30 minutos por ano. No primeiro dia em que ele pôde sair da solitária e voltar a conviver com os outros presos, com suas faculdades físicas e mentais totalmente afetadas, ele assassinou Rufus McCain e foi acusado de assassinato em primeiro grau - que é a classificação americana para assassinatos brutais e com intenção.
Claro que eu não vou contar o final do filme, mas digo que o julgamento de Henri Young trouxe pela primeira vez a discussão sobre os direitos humanos e o questionamento de que nem sempre o que está no Código é só o que importa, que a justiça também é importante. Hoje, décadas depois desse julgamento, temos nos nossos códigos leis humanistas, entretanto, não adianta termos leis humanistas se elas não saírem dos códigos e atingirem a realidade. Na maioria das vezes, tudo o que queremos é não ter criminosos na rua, mas na verdade, tudo o que deveríamos querer é não ter criminosos em lugar algum.
E, para isso, essa reeducação dos detentos precisa ocorrer e ela não irá acontecer enquanto nós não ligarmos para o que ocorre dentro dos presídios.
Assassinato em primeiro grau conta a história infeliz de um preso, entretanto, nós temos muitos Youngs anônimos por aí.
Beijos *_*
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28 de setembro de 2011 às 16:23
ótima resenha, parabéns :D
Beijos, Anderson Vidal
Da uma passadinha pelo meu blog :]
Hooked for Books
28 de setembro de 2011 às 17:17
É realmente dificil, como que ele foi condenado a Alcatraz por roubar 5 dólares?
Até hoje vemos pessoas sendo presas injustamente, ou relamente apenas sendo largadas nas prisões sem nenhum tipo de reeducação para que não façam coisas que os levem de novo á prisão mais tarde.
Alguns até conseguem ''aproveitar'' o tempo presos para estudar (mas isso apenas nas prisões que incentivam a isso), afinal, apenas deixar as pessoas presas para soltar sem mais nada não vai adiantar...
Outro filme que conta uma história veridica (eu acho) É O Golpista do Ano, mas esse é levado mais para o lado da comédia.
Beijos
Marta
http://aspalavrasfugiram.blogspot.com/
29 de setembro de 2011 às 20:00
Sinto dizer, mesmo que me chamem de comunista(rsrs) mas o sistema presidiário e a situação de clinicas de reabilitação mental em Cuba é muito mai estratégico.
Segundo o livro "A ilha" do jornalista Fernando Morais(brasileiro) em ambos os casos os "internos" dessas situações não só aprendem um oficio,como recebem uma remuneração pelo trabalho quando se reabilita.
Por que não pegar como exemplo?!
=*
30 de setembro de 2011 às 15:28
Ótima resenha! Como sempre, está de parabéns.
Este livro era desconhecido por mim e particularmente me deixou bastante instigada pra conhecer melhor e saber o final do filme - que suponho não ser feliz-.
E a história sendo verídica nos deixa muito mais indignados a saber que isso realmente aconteceu.
E de novo, ótimo texto!
13 de outubro de 2011 às 14:56
Acho que nunca tinha visto esse filme, mas foi uma dica interessante a sua. Vou ver se consigo assistir qualquer dia desses.
Beijos,
Ann .:. anngominho.blogspot.com
25 de outubro de 2011 às 16:56
Nunca tinha ouvido falar desse caso, mas ao ler o post, achei um absurdo. O sistema carcerário nos EUA é realmente eficiente, mas justamente por ser tão rígido, acontecem coisas como essas. Aqui no Brasil, pelo contrário, eu o acho mole demais, mas como estudante de Direito, sei que uma coisas dessas aqui nunca aconteceria, já que num caso desses, deve ser visado e aplicado pelo juiz o princípio da insignificância. E, além de tudo, nosso sistema carcerário, mesmo não sendo tão eficiente quanto o de Cuba citado ali em cima, de certa forma também visa a ressocialização do preso, pelas gratificações por bom comportamento, poder pagar parte da pena em horas de estudo e trabalho, e assim por diante. Lógico que poderia ser melhor (e mais rígido, porque uma vez lá dentro o detento só pensará em fugir, seja lá o que ele tenha feito pra entrar), mas acho que aqui o respeito é mais visado, porém ao mesmo tempo que ajuda, isso acaba prejudicando, então acabamos num dilema, e prejudicados do mesmo jeito, não só nós mas quem também é preso, porque vendo que é fácil sair, ele vai tentar isso e voltar pra vida de marginalidade que levava (como sempre vemos nos noticiários) :/
Bisous!
Ps.: INCRÍVEL o lay do blog e as ilustrações <3 Quem as faz? :o
5 de março de 2013 às 15:34
Ótima resenha mesmo. E filme excelente, claro! Mas infelizmente ou felizmente, não sei, pesquisei sobre o caso e sobre Alcatraz e descobri que o preso não se suicidou e sim fugiu e ainda está desaparecido até os dias de hoje. Dado como morto, claro! Pois entendem que ele morreu afogado nas águas frias da baía.
E Alcatraz... Não foi fechada pelo motivo alegado no filme e sim, por custo de manutenção altíssimo. Deram preferência ao investimento de outros sistemas carcerários.
Gostaria mesmo, é de poder confiar em alguma informação, pois o filme tem tudo para ter distorcido a história real, mas Alcatraz tem muitos motivos para esconder toda a verdade, além de ter condições e fortíssimas influências para isso. Infelizmente, vivemos num mundo de mentiras!