Quando eu era criança, ficava pensando o porquê de os presos não morarem nos presídios para sempre, já que, pelo que me diziam, eles estavam ali por terem feito coisas ruins (rs).

A medida que ia crescendo, ouvia que os presídios eram lugares que reeducavam as pessoas, que davam a elas uma nova chance de seguir um caminho dentro das leis, então achava estranho falarem tanto em crimes cometidos dentro dos presídios e também naquelas pessoas que continuavam no "mundo do crime" após cumprir suas penas. 

Hoje, estudo que o papel do Estado é dar condições para que a população carcerária se reinsira na sociedade, por isso não temos prisões perpétuas e, teoricamente, as torturas não são permitidas, mas sei também que muitas vezes eles não se reinserem na sociedade porque o Estado não cumpre o seu papel.

Assassinato em primeiro grau conta a história verídica de Henri Young, homem que entrou na prisão por roubar 5 dólares, teve os seus direitos tirados e terminou como assassino. Quem é o culpado pela morte: Henri Young, o assassino, ou o Estado, que transformou Young em um assassino?

Não preciso falar que não se trata de uma história feliz, né?! Trata-se de uma história real, com pessoas reais, com cenas fortes, daquelas que não saem da sua cabeça tão fácil assim (tanto que eu estou aqui falando do filme pra vocês).

Alcatraz foi desativada e hoje é um museu nos Estados Unidos
Henri Young era um órfão que, com 17 anos, foi preso por ter roubado 5 dólares de uma agência dos Correios, ele foi condenado a cumprir pena em Alcatraz, um presídio de segurança máxima dos EUA.

Young participou de um tentativa frustrada de fuga de Alcatraz que foi denunciada por Rufus McCain, da qual ele foi o único sobrevivente, e por isso foi condenado a passar 19 dias na solitária (que era, segundo as regras do presídio, o prazo máximo para um detento ficar nessa cela). Entretanto, Henri Young ficou na solitária por 3 anos, sofrendo todos os tipos de tortura, tendo direito a apenas um banho de sol de 30 minutos por ano. No primeiro dia em que ele pôde sair da solitária e voltar a conviver com os outros presos, com suas faculdades físicas e mentais totalmente afetadas, ele assassinou Rufus McCain e foi acusado de assassinato em primeiro grau - que é a classificação americana para assassinatos brutais e com intenção.

Claro que eu não vou contar o final do filme, mas digo que o julgamento de Henri Young trouxe pela primeira vez a discussão sobre os direitos humanos e o questionamento de que nem sempre o que está no Código é só o que importa, que a justiça também é importante. Hoje, décadas depois desse julgamento, temos nos nossos códigos leis humanistas, entretanto, não adianta termos leis humanistas se elas não saírem dos códigos e atingirem a realidade. Na maioria das vezes, tudo o que queremos é não ter criminosos na rua, mas na verdade, tudo o que deveríamos querer é não ter criminosos em lugar algum.

E, para isso, essa reeducação dos detentos precisa ocorrer e ela não irá acontecer enquanto nós não ligarmos para o que ocorre dentro dos presídios.

Assassinato em primeiro grau conta a história infeliz de um preso, entretanto, nós temos muitos Youngs anônimos por aí.



Beijos *_*