"Acho... que prefiro lembrar de uma vida desperdiçada com coisas frágeis, 
a uma vida gasta evitando a dívida moral."


Foram essas as palavras que Neil Gaiman escutou em seu sonho, certa noite, e que não saíram de sua cabeça. Ele passou um bom tempo tentando desvendar o que eram, afinal, essas tais coisas frágeis. Um dia, surgiu uma resposta: existem tantas coisas frágeis, pessoas se despedaçam tão facilmente, sonhos e corações também. Ele decidiu que esse deveria ser o título do livro que estava escrevendo, uma coletânea de contos fantásticos.

Uma aventura com um famoso detetive. Os doze meses do ano reunidos para contar suas histórias. A amizade entre um menino e um fantasma. A triste história de Smith. O desejo do senhor Alice de possuir o homem mais bonito do mundo. O misterioso (e selvagem) desaparecimento da desagradável senhorita Finch. O destino de Susana, após a ida de seus irmãos para Nárnia. A experiência de um gigante no matrix. Uma festa de outro planeta. A viagem do Clube de Epicurismo até a Cidade do Sol em busca do Pássaro-do-Sol. Uma reunião de proporções mitológicas. Essas são as situações vividas nos nove contos do livro.

1- Um Estudo em Esmeralda;
2- A Vez de Outubro;
3- Lembranças e Tesouros;
4- Os Fatos no Caso da Partida da Senhorita Finch;
5- O Problema de Susan;
6- Golias;
7- Como Conversar com Garotas em Festas;
8- O Pássaro-do-Sol;
9- O Monarca do Vale.

Esses contos nos mostram como as coisas que consideramos frágeis, na verdade, são fortes. Corações podem ser partidos, mas o coração é um órgão fortíssimo, capaz de pulsar durante toda a vida, setenta vezes por minuto, não falhando quase nunca.

Tudo bem, o parágrafo acima soou um pouco sentimentalista demais, mas não se engane, não espere nenhum final feliz à la Disney nos contos de Gaiman. São contos profundos, aqueles que te fazem pensar várias vezes antes de dizer que entendeu a história, que te fazem passar horas refletindo e procurando relações e explicações. Riquíssimo em intertextualidade, indo d'As  Crônicas de Nárnia ao Matrix (como já citei anteriormente). Os finais são quase sempre vagos, o que nos dá a liberdade de imaginarmos o que se sucederá.

Tenho que admitir que sou um grande fã de Neil Gaiman, ele sabe como fazer arte. Pois, para mim, a arte está na ideia e não na ação. Afinal, qualquer um pode reproduzir ideias geniais, mas nem todos conseguem criá-las. Ele cria mundos inteiros, personagens excêntricos e situações adversas, conseguindo dar lógica ao ilógico. A inventividade desse homem é tão magnífica que chega a ser quase inefável.

Neil escreveu livros maravilhosos como Deuses Americanos (com o qual o último conto do livro dialoga), Lugar Nenhum, O Livro do Cemitério e Os Filhos de Anansi. Também tem algumas obras adaptadas para o cinema como Coraline e o Mundo Secreto e O Mistério da Estrela: Stardust. Já nos quadrinhos, fez o clássico Sandman (considerada por muitos a melhor história em quadrinhos de todos os tempos) e Os Livros da Magia (que, dizem as más línguas, inspirou J. K. Rowling a criar o seu famoso Harry Potter). Vale a pena conferir, acreditem.


Coisas frágeis tem um preço bem acessível (comprei o meu exemplar novinho por apenas dez reais).  #ficadica