Como um fato em comum, como uma mesma história escrita várias vezes, com personagens diferentes e contextos diferentes. Mas o fim é sempre o mesmo. Grandes ídolos nacionais e internacionais de alguma forma são pessoas normais. Comuns. Frágeis. Frágeis ao ponto de sucumbir.

Farokh Bulsara (Freddie Mercury) já dizia dias antes de morrer que ia, mas com um grande pesar, pois nenhum dinheiro do mundo compraria o grande amor que ele gostaria de ter tido, mas nunca teve. E morria pouco a pouco numa mansão no centro de Londres, com uma fortuna que ultrapassava os 50 milhões de dólares, como uma personalidade que arrastava multidões, como um ídolo que cantava a liberdade gay. Como um homem deprimido, que ainda chorava no colo da mãe, e dizia que sentia falta de amar e de ser amado. Soropositivo.

Renato Manfredini Junior (Renato Russo), descendente de italianos, vocalista da Legião Urbana, uma das mentalidades jovens mais influentes da década de 90 no Brasil. Abraçou a bandeira gay sem medo. Migrava entre a depressão e a revolta, lutava contra as drogas e, nos últimos seis anos de vida, contra a AIDS. Surtava de depressão, dias antes de morrer, em seu apartamento, e os sons do piano que os vizinhos se acostumaram a ouvir, a cada dia iam ficando mais raros. Morreu sozinho, soropositivo, depressivo. E afirmava para a mãe, nos últimos meses, que aquele não era o seu mundo. E escreveu na mesinha de cabeceira de seu quarto antes de deitar e dormir pra sempre: "o pra sempre, sempre acaba".

Agenor de Miranda Araújo Neto (ou simplesmente Cazuza), veio da ala burguesa do Rio de Janeiro para aparecer para o Brasil como o exagerado, o menino que andava alcoolizado pelo meio fio, que fumava, que se drogava, que se relacionava com homens, com mulheres. Que amava a mãe. Que amava a vida. Que ouvia a MPB pelo pai e fazia rock por si. Cazuza morreu ao lado dos pais, às sete da manhã, soropositivo, com o vício das drogas na história de vida, sem nunca ter casado, com muitos casos.

Renato Russo teve medo de falar que sofria de AIDS, Freddie Mercury falou um dia antes de morrer. Cazuza deu a cara à tapa. E esse medo se deve ao fato de que a doença, na época, era associada a algo semelhante à lepra, ou a qualquer coisa que pode contagiar pelo ar. Os corpos eram velados em caixões lacrados. Muitos morreram negando ser soropositivos, e justificavam tudo como câncer.

E, mesmo na sociedade "sem preconceitos" do século XXI, ainda há um medo sem precedentes das pessoas que sofrem de AIDS. É como se o grupo passasse então a ser a escória da sociedade, a qual deveria ser mantida isolada e privada de entrar em contato com o resto do mundo.

E pensar que, dentre todas as pessoas que de certa forma marcaram seu período, há muitos mais que extrapolaram em uma vida de excessos, imediatista, ou simplesmente sucumbiram à AIDS. Renato Russo afirmou em uma de suas muitas composições que "os bons morrem jovens". Parece-me que no caso de grandes ídolos, morrem jovens, sozinhos e, apesar de arrastar multidões, influenciar pensamentos, criar ideologias, se mostram tão ou até mais frágeis do que as pessoas que os têm como ídolos. E fiquei me perguntando se os vícios e tudo o que aconteceu foi causa ou consequência da mentalidade poética de cada um. Se toda vez que surgir alguém excepcional para a música, este estará encaminhado para uma vida de drogas ou simplesmente a falta de ser amado. Espero que não.

Até mais...
Também escrevo no Diário dos Astronautas.