Faltando apenas três dias para completar 16 anos de idade, Kevin Khatchadourian realiza um massacre escolar matando nove pessoas. É com a história desse personagem maquiavélico que a autora Lionel Shriver escreveu o célebre Precisamos Falar Sobre o Kevin. Um livro surpreendente, atraente e perturbador.

No decorrer das 464 páginas, esse romance ficcionista da editora Intrínseca se desenrola em um estilo epistolar através de cartas escritas por Eva, mãe do assassino, direcionadas ao seu ausente marido Franklin. É dessa maneira que Eva revive a trajetória do seu filho, desde a pré-gravidez até ele formar 18 anos, tentando entender através das lembranças o que levou Kevin, no dia 8 de Abril de 1999, quinta-feira, a ter cometido uma chacina. 


Na trama, Eva e Franklin moravam em Nova York e formavam um casal americano-padrão. Digamos que os Estados Unidos é um “país-alvo” para esse tipo de acontecimento, tanto que a mídia já tornou esse assunto em mais um dos seus tópicos sensacionalistas. É justamente nesse ambiente propício que Eva tenta procurar porquês. Desse modo, Shriver aborda temas que são considerados como possíveis causas para a maioria dessas tragédias, por exemplo, jogos violentos, bullying, a legalização das armas de fogo e até mesmo influências musicais. Quase os mesmos motivos que são tratados no filme Elefante, baseado no caso verídico do massacre de Columbine, um dos mais famosos.

Entretanto, pensar que Kevin sofreu alguma dessas influências é uma das maiores ilusões. O seu caso é totalmente o oposto. Ele não jogava videogames violentos, não tinha gosto musical, detestava televisão e não utilizou qualquer tipo de arma de fogo para cometer o crime. Isso mostra que a autora não quis apenas criar mais um caso banal de fácil entendimento. Esse é um dos motivos pelo qual considero esse livro uma obra brilhante.  =)


Ele estava seco, alimentado, tinha dormido bem. Eu tentava com a coberta, sem a coberta; ele não estava nem com frio nem com calor; [...] o choro de Kevin não era um grito de dor, e sim de ódio. Ele tinha brinquedos pendurados no teto, blocos de borracha na cama. A mãe havia tirado seis meses de licença para passar o dia inteiro a seu lado; eu o pegava no colo com tanta freqüência que meus braços doíam; você não pode dizer que lhe faltasse atenção. Como os jornais tanto gostariam de repetir, dezesseis anos depois, Kevin tinha tudo. 

Além de existir certa reflexão sobre a maldade, a essência do livro está diretamente ligada aos sentimentos de uma mãe que vê o seu filho crescer e se tornar um assassino mirim, o que também nos permite refletir o quanto e como a educação familiar ajuda/influencia na criação de um psicopata desde pequeno. A escrita de Eva é incrivelmente sincera, uma verdade nua sobre seus sentimentos e pensamentos nunca antes revelados, ela desromantiza a maternidade e mostra as dificuldades na relação mãe e filho.

Um filme baseado na obra está por vir. A estréia de produção ocorreu no Festival de Cannes 2011 e é estrelado por Tilda Swinton interpretando a Eva, John C. Reilly como Franklin e o Ezra Miller sendo o Kevin, dirigido por Lynne Ramsay. A trilha sonora é feita por Jonny Greenwood, do Radiohead. Particularmente, esse é um filme muito esperado (rs).

Precisamos Falar Sobre o Kevin é um livro que impressiona, não tanto por sua história, e sim pelo seu lado psicanalítico, trabalhado com intensidade. Com certeza, leitores queridos, é uma leitura inesquecível. Depois de lê-lo é impossível você ver algo relacionado à psicopatia e não se lembrar de Kevin. Sem dúvidas, esse é mais um dos meus livros favoritos. *-*

Abraço e até.  =)